O vazio
Por um momento esqueci tudo que ela me fez e senti a falta dela. Eugênia voltou aos meus pensamentos, voltou à minha mente. Fui tomado por uma repentina saudade e entristeceu-me saber que ela não voltaria hoje. Está perto de uma hora e quarenta minutos da madrugada, o horário em que ela costumava a voltar para casa. Não ouço o barulho de chave e nem da porta se abrindo; sei que vou dormir sem ver, e conversar com, Eugênia. Foi uma ótima inquilina, tenho de reconhecer, mas a atitude dela em me envolver e me levar a confessar que eu era caidinho por ela não foi digna. Acho que fez de propósito, ela só queria testar sua capacidade de seduzir e nada mais. Após lograr êxito em seu intento (ver-me declarar a ela), dispensou-me, descartou-me simplesmente. Não estava interessada em mim, mas apenas em ver do que ela seria capaz. Isso deve ter preenchido seu ego. As coisas vinham há tempos, de longas conversas e aproximações. Chamegos, gentilezas, presentinhos, muitas e muitas frases que serviam como indiretas para mim... Depois de tantas insinuações da parte dela, eu me declarei, disse que eu a via como uma mulher que me despertava muito interesse e me excitava. Mas apenas saí frustrado, pois ela desdenhou esse meu interesse agora declarado. A partir daí as coisas perderam o rumo. Em breve todos meus elevados sonhos de ficar com a mulher que tanto desejei estariam terminantemente desfeitos, decaídos, derrubados... Eugênia foi embora de casa. Sei que sua partida se deu porque não aceitou, mesmo depois de tudo que me fizera, a confissão de que eu a via como ela verdadeiramente é: Mulher. E essa é uma pequena amostra das incongruências, ou contradições, desse gênero humano. Entretanto, acho que não precisava, e nem preciso, do seu perdão, pois meu sentimento por Eugênia não deixava, e nem deixa, de ser puro e verdadeiro; correspondia, e corresponde, aos meus mais profundos e naturais instintos de macho, de um homem que se sentiu, e ainda se sente, atraído intensamente por uma mulher. Essa forte atração, reflexo/conseqüência de uma violenta agitação hormonal, invade nossos pensamentos, nossas mentes, nossos corações. Quando digo ‘nossos’ e ‘nossas’, é porque me refiro a nós homens. Somos dotados de grande taxa de testosterona em nossos organismos que nos deixa babando pelas fêmeas, digo, pelas mulheres. Não acho sinceramente que eu tenha que me desculpar com ela; ela, sim, é quem deveria se desculpar comigo por não permitir, ou não aceitar, que eu a desejasse como fêmea, como mulher. Mas sei que agora não cabem pedidos de desculpas ou reconciliações, infelizmente só há lugar para a falta que eu sinto de Eugênia.
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